Por Mayara Silva
Cabeção! É assim
que Buca Dantas se denomina para explicar o seu jeito teimoso. O jornalista que decidiu trabalhar com cinema
na terra onde acreditavam que cinema era “coisa de rico”, ainda acredita que é
uma “coisa de rico”, uma arte muito cara, enfatiza, mas afirma que é uma
realidade hoje produzir conteúdo com qualidade longe dos grandes orçamentos da
indústria cinematográfica.
Criador da TV
Garrancho, uma ONG que nos anos 90 realizava trabalhos sociais junto aos
movimentos sociais organizados como o MST (Movimento dos trabalhadores sem
terra), sindicatos, e passando a trabalhar estritamente com cultura. José
Alberto Dantas, que hoje é conhecido por Buca Dantas, ingressou na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte em 1997, no curso de jornalismo. Na área, chegou
a produzir duas matérias que foram premiadas, uma ganhou uma premiação local e
a outra venceu o II Prêmio Nacional Confea de Jornalismo (Realizado pelo
Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia). Sobre o feito Buca
demonstra bom humor quando diz que não era sua área, “graça a Deus cada uma
ganhou um premio”.
Atuando como
diretor do programa Brasil Total, exibido no Fantástico pela rede Globo entre
2002 e 2004, revela que na época não se identificou com o sistema de produção
comercial de TV.
Como um
profissional sem amarras, não poupa palavras ao criticar a elite política que
está à frente dos jornais locais, que segundo Buca só se preocupam em acumulação
de capital, e isso acaba se refletindo na qualidade do jornalismo. O jornalista
afirma que com a internet isso tem mudado e aberto novas possibilidades na
produção de conteúdo jornalístico e audiovisual.
Como cineasta,
Buca afirma que no início foi ridicularizado por se denominar como tal. Seu
primeiro curta A feira, gravado em 1999
quando era estagiário da TV Universitária, com um orçamento de 15 reais, onde
já continha algumas ferramentas que usa hoje, revela que são coisas simples,
tomadas de cenas de um ponto de vista particular e específico, onde é preciso
usar o equipamento não de forma aleatória, mas pensado. Produziu A
estrada em 2000 e A força em 2001.
“Esses 3 filmes tem os elementos no que eu me transformei.” Quando viajava para
o interior do Rio Grande do Norte em uma viagem de ônibus, foi apresentado à
história do poeta e ex-escravo Fabião das Queimadas, viu que ali havia material
para produzir um filme. Com Fabião das
Queimadas, poeta da liberdade, ganhou a 1º versão do Doc TV da TV Cultura e
o 1° Festival de Cinema e Sertão do Ceará.
Buca Dantas ( Acervo Pessoal)
Seu interesse em
números primos levou-o a trabalhar em uma teoria de audiovisual onde cada
elemento é único, assim como os números primos. Sua parceria com o fotografo e
artista francês Mathieu Duvignaud, resultou na criação de um novo movimento cinematográfico,
o Cinema Processo, onde parte do pressuposto da observação, de utilizar os
elementos que se encontram nos lugares, seja ele técnico ou humano, onde a equipe
de cinema só tem o direito de transformar em linguagem de cinema, aquilo que a
comunidade apontar que deve ser feito.
Viva o Cinema Brasileiro foi o primeiro
filme baseado no movimento, foi gravado em três comunidades do interior do RN,
não havia roteiro, apenas uma personagem central interpretada pela atriz
potiguar Quitéria Kelly, a história era criada pelas pessoas onde a equipe
chegava. Ainda inédito, o segundo filme processo A perdição, é uma livre-adaptação de uma peça chamada O fuxiqueiro, escrita por Lindenberg
Bezerra, natural de Janduís, onde o filme foi rodado.
Para o futuro, o
cineasta está finalizando o filme Malu
e fechando um projeto de cinema e uma série de TV com o canal Futura.
Quando indagado
se é possível viver de cinema no Brasil, Buca Dantas afirma que é possível e
muito bem, no Rio Grande do Norte ainda se está estabelecendo, mas é preciso
dar a “cara a tapa” para se definir exclusivamente fazedor de cinema.
Atriz Quitéria Kelly em Viva o Cinema Brasileiro ( http://quiteriakelly.blogspot.com)
Filmografia Buca Dantas
A feira (1999)
A estrada (2000),
A força (2001),
Viva o cinema brasileiro! (2006)
Perdição (2009), ( inédito).
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