sábado, 17 de dezembro de 2011

“Para viver de cinema é preciso dar a cara a tapa!"



Por Mayara Silva

Cabeção! É assim que Buca Dantas se denomina para explicar o seu jeito teimoso.  O jornalista que decidiu trabalhar com cinema na terra onde acreditavam que cinema era “coisa de rico”, ainda acredita que é uma “coisa de rico”, uma arte muito cara, enfatiza, mas afirma que é uma realidade hoje produzir conteúdo com qualidade longe dos grandes orçamentos da indústria cinematográfica.
Criador da TV Garrancho, uma ONG que nos anos 90 realizava trabalhos sociais junto aos movimentos sociais organizados como o MST (Movimento dos trabalhadores sem terra), sindicatos, e passando a trabalhar estritamente com cultura. José Alberto Dantas, que hoje é conhecido por Buca Dantas, ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 1997, no curso de jornalismo. Na área, chegou a produzir duas matérias que foram premiadas, uma ganhou uma premiação local e a outra venceu o II Prêmio Nacional Confea de Jornalismo (Realizado pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia). Sobre o feito Buca demonstra bom humor quando diz que não era sua área, “graça a Deus cada uma ganhou um premio”.
Atuando como diretor do programa Brasil Total, exibido no Fantástico pela rede Globo entre 2002 e 2004, revela que na época não se identificou com o sistema de produção comercial de TV.
Como um profissional sem amarras, não poupa palavras ao criticar a elite política que está à frente dos jornais locais, que segundo Buca só se preocupam em acumulação de capital, e isso acaba se refletindo na qualidade do jornalismo. O jornalista afirma que com a internet isso tem mudado e aberto novas possibilidades na produção de conteúdo jornalístico e audiovisual.
Como cineasta, Buca afirma que no início foi ridicularizado por se denominar como tal. Seu primeiro curta A feira, gravado em 1999 quando era estagiário da TV Universitária, com um orçamento de 15 reais, onde já continha algumas ferramentas que usa hoje, revela que são coisas simples, tomadas de cenas de um ponto de vista particular e específico, onde é preciso usar o equipamento não de forma aleatória, mas pensado.  Produziu A estrada em 2000 e A força em 2001. “Esses 3 filmes tem os elementos no que eu me transformei.” Quando viajava para o interior do Rio Grande do Norte em uma viagem de ônibus, foi apresentado à história do poeta e ex-escravo Fabião das Queimadas, viu que ali havia material para produzir um filme. Com Fabião das Queimadas, poeta da liberdade, ganhou a 1º versão do Doc TV da TV Cultura e o 1° Festival de Cinema e Sertão do Ceará.

                           
Buca Dantas ( Acervo Pessoal)

Seu interesse em números primos levou-o a trabalhar em uma teoria de audiovisual onde cada elemento é único, assim como os números primos. Sua parceria com o fotografo e artista francês Mathieu Duvignaud, resultou na criação de um novo movimento cinematográfico, o Cinema Processo, onde parte do pressuposto da observação, de utilizar os elementos que se encontram nos lugares, seja ele técnico ou humano, onde a equipe de cinema só tem o direito de transformar em linguagem de cinema, aquilo que a comunidade apontar que deve ser feito.
Viva o Cinema Brasileiro foi o primeiro filme baseado no movimento, foi gravado em três comunidades do interior do RN, não havia roteiro, apenas uma personagem central interpretada pela atriz potiguar Quitéria Kelly, a história era criada pelas pessoas onde a equipe chegava. Ainda inédito, o segundo filme processo A perdição, é uma livre-adaptação de uma peça chamada O fuxiqueiro, escrita por Lindenberg Bezerra, natural de Janduís, onde o filme foi rodado.
Para o futuro, o cineasta está finalizando o filme Malu e fechando um projeto de cinema e uma série de TV com o canal Futura.
Quando indagado se é possível viver de cinema no Brasil, Buca Dantas afirma que é possível e muito bem, no Rio Grande do Norte ainda se está estabelecendo, mas é preciso dar a “cara a tapa” para se definir exclusivamente fazedor de cinema.

             
Cena do filme Perdição ( Fotos: Allany Brito; http://janduis.online.zip.net)

         
Atriz Quitéria Kelly em Viva o Cinema Brasileiro ( http://quiteriakelly.blogspot.com)
Filmografia Buca Dantas
A feira (1999)
A estrada (2000),
A força (2001),
Viva o cinema brasileiro!  (2006)
 Perdição (2009), ( inédito). 

Nenhum comentário:

Postar um comentário