Por Tatiana Souza de Oliveira Farias
Alípio de Sousa Filho,
professor da UFRN, formado em ciências sociais, com doutorado em sociologia
pela Sorbonne e pós doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é o
criador da revista Bagoas, publicação semestral do Centro de Ciências Humanas,
Letras e Artes (CCHLA), com foco na publicação de artigos resultantes de estudos
teóricos e pesquisas empíricas sobre gênero, sexualidade e homossexualidade,
destacando espaço para os estudos gays, reflexões sobre o erotismo,
lesbianismo, transgêneros, conjugalidades e parentalidades homossexuais.
Bagoas: Eunuco Persa,
dançarino, que pertenceu à corte de Dario III e, posteriormente, de Alexandre
Magno. Viveu no séc. IV e é descrito como dono de uma beleza incomparável.
Exímio dançarino, andrógino, foi um dos cortesãos e amantes preferidos de
Alexandre, O Grande.
Perguntado sobre como
surgiu a idéia da Bagoas, o professor Alípio de Sousa Filho conta que estuda o
tema da homossexualidade há algum tempo, que sempre fez parte de seus
interesses de estudo e pesquisa. Disse ainda que a ideia de criar uma revista
para a publicação de artigos e ensaios sobre as temáticas de gênero,
sexualidade, homossexualidade etc. veio da constatação da ausência de um
periódico acadêmico com este perfil nas nossas universidades. No segundo
semestre de 2007, durante uma viagem de férias, enquanto dirigia seu carro por
estradas da Bahia, em direção a Salvador, a ideia da revista (seu nome, formato
etc.) foi aos poucos surgindo e inspirando-o. “Pensei uma revista acadêmica,
mas sem se dobrar ao cientificismo que predomina em certas revistas
universitárias. Pensei uma revista de vocação militante, crítica, engajada no
debate epistemológico e político-público. De volta a Natal, apresentei a proposta
ao Diretor do CCHLA, o professor Márcio Valença, que aprovou a ideia
imediatamente. A revista tem hoje o perfil que pensei para ela e que foi também
compartilhado com os colegas que compõem a comissão editorial e o conselho
consultivo. Ao ser criada, a Bagoas foi exaltada como a primeira revista
acadêmica de estudos gays da América Latina e em países de língua portuguesa”,
explica Alípio.
A Bagoas tem repercussão
não só nacional, mas também internacional. É hoje uma revista consolidada no
campo dos chamados estudos de gênero e sexualidade. Desde seu primeiro número,
em 2007, a revista já publicou artigos e ensaios de pesquisadores do Brasil,
Chile, Peru, Portugal, França, Espanha, Itália, Estados Unidos. Autores ligados
às universidades nesses países ou com atuações intelectuais públicas a partir
de suas atuações em instituições de pesquisa ou de lutas sociais. A
distribuição através da venda nas principais livrarias do país e da cidade de
Natal, assim como a distribuição gratuita através da remessa a bibliotecas
públicas e universitárias, a Ongs, a órgãos de pesquisa, entre outras, tem
permitido um amplo acesso da revista e sua circulação. A revista Bagoas, desde
sua criação, é também publicada em formato eletrônico no site próprio da
revista que é o www.cchla.ufrn.br/bagoas. Alípio fala ainda que já alcançou
seus objetivos com a revista, não apenas em termos de circulação, mas
igualmente quanto ao papel pretendido com a Bagoas desde sua criação: “fazer
circular reflexões críticas sobre as questões ligadas à diversidade sexual,
gênero, práticas de discriminação e preconceito quando se trata das diferenças
e dissidências em termos de práticas erótico-sexuais em nossa sociedade
relativamente ao que esta mesma sociedade mantém como sua presumida
normalidade”.
O professor afirma que
continuará trabalhando para que a Bagoas se afirme, cada vez mais, como espaço
para essas reflexões. “Atualmente, a revista já está muito bem qualificada pelo
Qualis CAPES, um sistema de avaliação dos periódicos acadêmicos, e somente
tende a crescer nessa avaliação”.